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A coincidência do artigo quinzenal que escrevo para esta página, com a data referida como "Dia dos Pais", entre nós brasileiros, provoca uma reflexão sobre paternidade em tempos de tamanhas transições. Não sou lá dos mais entusiastas pelas datas dedicadas a mães, pais, crianças, namorados, avós, por sabê-las ser criações publicitárias com propósitos de consumo e comércio. Todavia, reconheço despertarem sentimentos e possibilitarem repensares e manifestações de afeto no que são úteis à sociedade e à convivência humana e familiar.
A segunda metade do século 20, que vivi integralmente, foi marcada por profundas mudanças nos costumes e pelo que se pode referir como "revolução feminina". Nela, o mundo masculino, do qual a paternidade sempre foi a máxima e mais intensa expressão, entrou em crise. O ser masculino tonteou diante das mudanças e tem levado décadas procurando compreender seu novo papel. A sociedade que tradicionalmente fora nos últimos séculos ocidentais paternalista, masculina ou machista, como queiram, transformou-se sem bem encontrar o ponto de equilíbrio até hoje.
O pai, exclusivo chefe de família, provedor e autoridade suprema já não predomina. E a paternidade perde em autoridade e poder, ganhando em afeto, presença, compartilhamento de tarefas, convívio. Vejo as novas gerações de pais vivendo muito mais intensamente as consequências, bônus e ônus. As presenças paternal e maternal misturam-se e se confundem positivamente. É comum, hoje, os casais desde o início anunciarem-se "grávidos", o que deixa bem claro, o compartilhamento de sensações e vivências diante dos desafios de gerarem e assumirem uma criança. A presença paterna no parto e nas tarefas cotidianas de trato ao bebê tornou-se tendência majoritária.
Por outro lado, o ambiente ficou desafiador. Era bem mais simples preservar um ser em formação sob a influência e até o controle de um lar. Hoje, no alvorecer da infância já se conectam com o mundo externo, frequentam redes sociais, interagem. As possibilidades são imensas, os riscos abissais. Educar é bem mais complexo, regular muito mais difícil. Os pais e mães da geração contestadora e transformadora que se apegaram a condutas libertárias que resultaram na ausência de limites e de senso de responsabilidade na personalidade dos rebentos vão sendo substituídos por adultos com dose equilibrada de bom senso e persuasão. As crianças de 100 anos atrás não tinham vontade ou direitos, eram propriedades de uma família patriarcal. Hoje, são seres plenos de direitos, diria até que são os novos polos do lar, com suas vontades, necessidades, peculiaridades.
Tenho, neste cenário de transformações, desafios e demandas, atenção e carinho especiais com os novos pais. Eles estão vivendo muito mais intensamente a paternidade do que os da minha geração e anteriores. Dela usufruem plenamente em obrigações e prazeres. Ou seja, são bem mais e melhores pais do que eu e os da minha geração fomos.